Pelo menos três casos de agressão ou ameaça foram relatados por políticos no estado
No intervalo de dez dias, dois episódios de violência política contra pré-candidatos a prefeituras foram registrados na Bahia no mês de maio. O primeiro aconteceu em Cardeal da Silva, no dia 16, contra a ex-prefeita Maria Quitéria (PSB). Dias depois, a vítima foi o ex-prefeito de Alagoinhas, Paulo Cezar (União Brasil). Os ataques apontam para um cenário tenso para as eleições municipais deste ano.
Por meio do Instagram, Maria Quitéria relatou ter sido alvo de agressões físicas e verbais perto de sua casa em Cardeal da Silva. Segundo a pré-candidata, o suspeito proferiu xingamentos contra ela e sua equipe. “Um ato machista, preconceituoso, baixo. Me xingando, me colocando em uma situação em que eu, como mulher, mãe, não desejo para ninguém. Me senti no direito de entrar no carro para não levar uma surra e mesmo assim ele ainda me atingiu no ombro”, detalhou Quitéria.
O caso foi registrado na Delegacia Territorial de Entre Rios, município vizinho a Cardeal. De acordo com Quitéria, episódios do tipo já ocorreram em outras pré-campanhas. Embora tenha sido vítima mais de uma vez, a pré-candidata descarta a possibilidade de ter seguranças. “Não uso e não pretendo. Porém, eu pedirei à Delegacia da Mulher uma proteção”, afirmou.
Ao contrário de Maria Quitéria, Paulo Cezar contou que deverá contratar seguranças para a pré-campanha após ter sido vítima de agressão física durante um evento de futebol realizado pela atual gestão de Alagoinhas, no último dia 26, no bairro Jardim Petrolar. “Foi a primeira vez que isso ocorreu. Nunca andei com segurança na minha vida, mas agora terei que andar”, declarou.
Segundo Paulo Cezar, ele foi agredido enquanto cumprimentava pessoas que estavam no evento, quando o suspeito teria ordenado que ele saísse do local e acabou o empurrando. O pré-candidato prestou queixa na polícia e foi submetido a exame de corpo de delito.
No mês de abril, Onilde Carvalho (Novo), pré-candidata à prefeita de Paulo Afonso, no Norte da Bahia, sofreu ameaças depois da divulgação da pesquisa eleitoral na cidade, segundo nota publicada pelo partido. O levantamento apontaria bom desempenho Onilde. Conforme o relato da pré-postulante, um homem, que seria acusado de feminicídio, disse que iria “neutralizá-la”. A intimidação foi feita em um grupo de Whatsapp, segundo ela. “A gente sabe que neutralizar é matar, né? São sinônimos. E, pelo histórico desse criminoso, eu fiquei um pouco tensa”, afirmou. Ainda segundo a denunciante, o caso, que foi registrado na 1ª Delegacia Territorial de Paulo Afonso, ocorreu depois de um questionamento feito por Onilde sobre as estratégias políticas utilizadas pela ala política que governa a cidade.
No início deste mês, Valmir Justino, pré-candidato a vereador de Umburanas, no Norte do estado, foi morto a tiros. De acordo com a Polícia Civil, ele foi alvejado dentro de um carro por dois homens que estavam em uma motocicleta. O crime ocorreu na Rua Quirino Gama e Silva, no centro do município. Ainda conforme o órgão de segurança, Valmir possuía registro de prisão em flagrante por tráfico de drogas, em 2023, e já foi denunciado pelo Ministério Público da Bahia. Não há informações se a morte ocorreu por razões políticas.
A Justiça Eleitoral da Bahia foi questionada pela reportagem sobre os casos de violência na pré-campanha no estado. O órgão disse que a responsabilidade de se pronunciar sobre o assunto é da Polícia Civil. Por sua vez, a PC informou que abriu investigações sobre as agressões a Maria Quitéria e Paulo Cezar. A polícia também declarou que os suspeitos já foram ouvidos e que o procedimento investigativo está em fase de conclusão.
Tensão nas eleições
O cientista político Cláudio André de Souza explica que as eleições municipais geram um clima de mais violência do que os pleitos gerais. “Mobiliza mais os lados, deixam tudo à flor da pele exatamente pela característica que tem as eleições municipais, pelo papel que exerce as prefeituras nos municípios menores, e a disputa se torna ainda mais acirrada e polariza a sociedade”, afirmou.
A polarização municipal citada pelo cientista político não é a mesma que foi observada no embate presidencial de 2022, entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Segundo o especialista, é “muito mais complexa”. “Ela (a polarização municipal) também trabalha no campo afetivo, ela trabalha numa perspectiva de mobilizar os lados, mas ela é muito mais enraizada, porque a vida no município é diferente”, analisou.
“A pessoa sabe de quem é aquela padaria, de quem é a farmácia, quem é o dono, quem é a pessoa. Então, tem ali uma polarização que envolve inclusive os hábitos de consumo, de sociabilidade. E isso vai estruturando a disputa num nível muito mais profundo”, acrescentou.