A região registrou ventos de 33,8 km/h nesta segunda
Quem frequenta a orla de Piatã se deparou com um cenário diferente do habitual na tarde desta segunda-feira (15). Os ventos que atingiram a capital deslocaram a areia da praia para a calçada da Avenida Octávio Mangabeira e formaram pequenas dunas que causaram a queda de ciclistas e corredores.
“Perdi as contas de quantas pessoas caíram”, afirmou o comerciante Zelito Costa, 57 anos. Dono de uma barraca de caldo de cana na região, ele afirmou que presenciou pessoas caindo no local nas manhãs de domingo (14) e segunda (15). “Sempre acontece nessa época do ano”, completou.
De acordo com a Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador (Cemadec), as rajadas de ventos passaram dos 30km/h nas estações meteorológicas próximas ao bairro de Piatã, chegando a 33,8 km/h na estação Itapuã-UBS. O número é terceiro maior registrado na cidade, atrás das estações Canabrava-Barradão (38,9km/h) e Praia do Flamengo-Parque das Dunas (36,7km/h).
O Cemadec também informou que o inverno é a estação onde se esperam ventos mais intensos em direção a costa do Nordeste, mas não responderam o quanto a força das rajadas aumenta no período. Segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal), a previsão de ventos acima dos 20km/h nesta semana, com destaque para a terça-feira (16) e o domingo (21), onde a ventania deve chegar a 26km/h.
Comerciantes que estão mais afastados do mar relatam que apelam para diversas estratégias, como o uso de portas de vidro, para diminuir os efeitos da ação dos ventos. Já os que estão mais próximos da praia possuem artifícios mais limitados. Galego, 43, é dono de uma barraca na praia e contou que o vento forte atrapalha a chegada dos clientes: “Fica difícil de estacionar. Já vi carro patinar e moto derrapar na pista por causa da areia”.
Além das quedas, os trabalhadores também relataram que a ventania prejudica a visão, já que os olhos ficam irritados devido a quantidade de poeira e areia levada pelas rajadas. “Não tem como não machucar o olho”, completou Galego.
Em nota, a Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) declarou que a região da orla de Piatã é varrida todos os dias: “Quando há um grande volume de areia nas ciclovias, um mutirão de limpeza é realizado com auxílio da equipe de serviços especiais que utilizam pás, vassouras e carrinhos de mão, devolvendo a areia para a praia”.
Areia causou transtornos no Costa Azul em janeiro
No início do ano, no dia 3 de janeiro, os moradores da Rua Dr. Augusto Lopes Pontes, no Costa Azul foram afetados por um deslocamento de dunas que invadiu a pista e encobriu um ponto de ônibus. Em alguns trechos da via, era impossível caminhar na calçada, que estava coberta de areia. Na época, a reportagem esteve no local e flagrou o momento em que um motociclista se desequilibrou, quase caiu e saiu praguejando.
Moradores contaram que a Limpurb recolhe a areia do asfalto, mas que com o passar das horas o material volta a ‘escorrer’ para a pista. Pedestres também reclamaram da situação. A atendente Juliana Souza, 28 anos, disse que em períodos de chuva é complicado. “A água arrasta a areia e é muito difícil de caminhar”, contou.
Segundo o presidente da Universidade Livre das Dunas (Unidunas), Jorge Santana, a movimentação das areias estaria relacionada com a ação humana, como pessoas que sobem as dunas e usam o solo de maneira indevida, arrancando vegetação e plantando outras espécies na região de restinga.
“Restinga é uma área de transição para a Mata Atlântica. Ela é fixadora de dunas e fica comprometida quando mexemos. Quando não tem vegetação, ela começa a caminhar com a ação eólica [força dos ventos]. O movimento de pessoas caminhando em locais errados retira essa vegetação. A solução é plantar mais espécies de restinga”, explicou.