Toda vez que sai de casa, no bairro da Liberdade, para trabalhar na Vasco da Gama, o segurança Márcio Sousa, 39 anos, faz o percurso de carro. Há dois meses, ele gastava R$ 450 de combustível para cumprir suas obrigações com o automóvel no mês. Agora, em agosto, prevê um gasto de R$ 300. Uma redução de 33% no orçamento que acompanha a queda no preço da gasolina na Bahia.
De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em dois meses, o valor do combustível caiu 30%. No fim de junho, o litro saía da bomba por uma média de R$ 8,04. Na última semana computada pela agência, de 14 a 20 de agosto, o valor médio cobrado pelo item era de R$ 5,62.
Nesta semana, o preço voltou a diminuir e, agora, a gasolina já sai por R$ 5,34. Em 10 postos de combustíveis onde a reportagem passou na capital baiana, os preços mais altos chegaram a R$ 5,39 em três dos pesquisados. Todos outros cobravam a média.
Os valores têm agradado consumidores, mas estão atrás de boa parte das capitais do país, se comparados ao último levantamento de preços divulgado pela ANP, que cobria os preços até 20 de agosto. Isso porque Salvador (R$ 5,58) só tinha a gasolina mais barata que Rio Branco (R$ 5,76), Manaus (R$ 5,59) e Boa Vista (R$ 5,85). No cenário estadual, não é diferente. A Bahia (R$ 5,62) só cobrava menos que Acre (R$ 5,89), Amazonas (R$ 5,63), Roraima (R$ 5,85) e Tocantins (R$ 5,73).
Procurada para falar sobre a política de preços do estado, a Acelen, que gerencia a Refinaria de Mataripe, informou que os valores praticados para as distribuidoras seguem critérios de mercado, levando em consideração variáveis como custo do petróleo, adquirido a preços internacionais, dólar e frete.
Alívio para o bolso
Se a tendência seguir no último levantamento de agosto, mesmo cobrando R$ 5,34 pelo litro, Bahia e Salvador continuam figurando entre os preços mais altos entre estados e capitais. Para Márcio, no entanto, isso não impede que o valor já represente um alívio no bolso. “Tenho dois filhos e esses R$ 150 a menos no preço fazem muita diferença. Isso já paga uma conta de água e de luz. […] Agora, com mais folga, dá até para pensar em voltar a utilizar o carro para coisas além das obrigações. Ir na praia, passear ou até viajar para um lugar como o Projeto Tamar com as crianças fica mais possível”, afirma o segurança.
César Pestana, 43, é farmacêutico e também tem a Vasco da Gama como destino diário para trabalhar. Morador do bairro da Federação, ele também arca com R$ 300 mensais de combustível. A redução do valor do combustível significa uma folga para pagar o que está mais caro. “Gastava R$ 500 e agora pago R$ 300 por mês, uma diferença que tem muito impacto nas contas. Emprego esse dinheiro, principalmente, na comida, que está mais cara. A gente tira de um para colocar no outro que está exigindo mais dinheiro”, brinca César.
Para o moto-taxista Juracir Bispo, 57, os dois últimos meses também são de alívio. Em junho, ele conta que gastava R$ 120 para encher um tanque que durava uma semana. Agora, paga R$ 70. “Como eu não rodo muito e uso as corridas de moto para completar minha renda, só encho o tanque uma vez por semana. Porém, já é uma folga boa porque economizar R$ 50 na semana em relação a tão pouco tempo é o que eu não esperava quando o assunto é gasolina. Vem em boa hora”, diz o moto-taxista.
Imposto, petróleo e câmbio
A queda nos valores em âmbito estadual e nacional não acontece do nada. Economista da Federação do Comércio da Bahia (Fecomércio-BA), Guilherme Dietze explica que a redução está atrelada a três fatores: redução do imposto sobre o combustível aprovada em congresso nacional, o valor do barril de petróleo e o câmbio.
“O preço do petróleo no mercado internacional e o câmbio são dois fatores que influenciam demais e ambos têm baixado. O barril de petróleo, que chegou na casa dos U$ 120, está abaixo de U$ 90. A partir disso, é possível reduzir, gradativamente, o preço na refinaria. E o câmbio, que estava em U$ 5,40, agora oscila na casa dos U$ 5,10, sem pressionar tanto”, pontua o economista.
Também economista, Raimundo Sousa esclarece o papel da redução do teto do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) – que saiu de 24% para 17% – nessa conta que termina com o preço mais baixo na bomba.
“Houve uma redução da alíquota do ICMS, cobrado pelos estados sobre mercadorias e serviços, o que impactou bastante. […] Há uma relação direta entre a redução e os impostos, mas não são os únicos itens que vão impactar. A cotação do mercado internacional e a margem de lucro na formação de preços são outros fatores”.
A influência de múltiplos fatores é evidenciada na diferença da curva de preço entre a gasolina e o diesel, que têm o barril de petróleo como origem. Mesmo tendo uma matéria-prima comum, um tem descido de valor enquanto outro não, como analisa Marcelo Travassos, secretário executivo do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia).
“Os países da Europa têm no gás natural o seu insumo mais importante para a formação de energia. Como a Rússia é o maior fornecedor de gás para a Europa, os países buscam a alternativa na termoelétrica, que funciona a gás ou diesel. […] Se está faltando gás, todo mundo vai atrás do diesel, que ascende”, elucida Travassos.
Redução vai continuar?
Quando o assunto é gasolina, apesar de comemorar o preço mais baixo, o consumidor também se pergunta se a tendência é isso continuar. O Sindicombustíveis Bahia não faz previsões, mas ressalta que a expectativa do setor é que o preço siga caindo. Para os revendedores, só preços baixos impactam no volume de vendas, de onde se tira o lucro no setor. O sindicato, porém, não tem números referentes ao aumento nas vendas nos últimos meses.
Já o economista Guilherme Dietze aponta para prováveis reduções na gasolina, mesmo que elas não aconteçam na mesma proporção dos últimos dois meses.
“A gasolina tem uma tendência de redução. No entanto, o grande impacto já aconteceu por conta da medida do ICMS. O barril de petróleo e o câmbio, claro, estão ajudando. Porém, para pensar em R$ 4 ou R$ 3 por litro, precisaria haver uma redução de dólar para baixo de R$ 4 e o barril por U$ 40. É outro cenário que a gente não vê num curto ou médio prazo”, afirma.
Raimundo Sousa adiciona outro fator na equação ao responder se os preços na bomba podem seguir em uma tendência de redução. “A continuidade da queda de preço vai depender desses fatores já citados. No entanto, depende também da oferta do produto se houver uma redução de demanda. Para além disso, a margem de lucro praticadas por quem vende a gasolina”, finaliza.