Após o mal estar que enfrentou com o agronegócio após a última Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), há pouco mais de um mês, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o seu mininistro da Agricultura, Carlos Fávaro, tentaram utilizar a abertura oficial da Bahia Farm Show, nesta terça-feira (06), para desfazer o mal estar com o setor. Equipados com bonés do Banco do Brasil (BB), que ameaçou cancelar o patrocínio da feira no interior de São Paulo, os dois representantes do Governo Federal evitaram polêmicas com a turma do campo em Luís Eduardo Magalhães.
A solenidade aconteceu em um espaço reservado apenas para convidados e profissionais da imprensa, previamente credenciados. Enquanto o presidente visitava a área interna da feira, do lado de fora foram registrados alguns protestos. Na entrada principal da Bahia Farm, algumas pessoas chegaram a gritar palavras de ordem contra o petista. Apesar de a tend montada para o evento estar cheia, muitos produtores rurais boicotaram a cerimônia de abertura. Um deles chegou a dizer que, para ele, a Bahia Farm Show começaria apenas quando o presidente deixasse o local.
Quando faltou contra o desmatamento ilegal e a degradação ambiental, Lula fez questão de enfatizar que este tipo de ações estaria restrita a “uns poucos bandidos” e que não deveria representar a imagem do setor. Em outro claro aceno ao agro, quando já tinha trocado o boné do BB, entregue a ele por Favaro, por outro da campanha Bahia Verde, Lula rechaçou eventuais disputas entre a Agricultura e a Indústria, ou mesmo entre os produtores de pequeno porte e o agronegócio.
Com o mal estar relacionado à Agrishow ainda fresco na memória, Lula agradeceu pelo convite ao produtor rural Odacil Ranzi, presidente da Associação Baiana dos Produtores e Irrigantes (Aiba) e da Bahia Farm Show. “Odacil, você e outros produtores me deram a honra de ter sido convidado junto com o meu ministro da agricultura”, disse.
“Receber o convite para estar aqui é muito bom. A eleição acabou”, disse Fávaro, que em seu discurso destacou ações para abrir mercados externos ao agro brasileiro e facilitar a vida dos produtores do setor.
O discurso de pacificação e reaproximação só foi deixado de lado quando o presidente da República comparou o seu governo com o do seu antecessor e principal adversário político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “O Brasil vive uma confusão política que não se via até então. Antigamente, quem perdia as disputas nas eleições ia para casa chorar. Foi o que eu fiz quando perdi para (os ex-presidentes) Collor e Fernando Henrique”, lembrou. “Quem perde para nós não aceita. Não estávamos acostumados com todo esse ódio”, disse.
Ao explicar porque decidiu voltar a disputar a Presidência, Lula culpou o governo anterior pelos problemas enfrentados na economia brasileira. “Quando deixei a Presidência, o Brasil era a 6ª economia mundial, agora é a 13ª, o país sofreu um retrocesso. Em ritmo de campanha, citou o esforço para a liberação de uma carga de carne brasileira que está retida na China e disse que espera o Brasil produzindo cada vez mais a proteína animal porque “o povo quer comer picanha”.
“Nós precisamos da indústria e do agro, do pequeno produtor e do grande. Não tem porque haver preconceito com quem produz muito ou quem produz pouco”, destacou.
O presidente ainda culpou a gestão passada pelo baixo volume de investimentos no Plano Safra – recursos que são utilizados para financiar a produção agrícola. Além disso, atribuiu também à gestão passada a falta de investimentos em infraestrutura. “Me diga onde tem uma ponte, uma ferrovia no governo passado. O país era governado na base da mentira e do medo”, disse.
“Renan Filho (ministro dos Transportes) já fez mais em cinco meses que o antecessor em um ano. E só neste ano faremos mais do que nos últimos quatro anos”, garantiu, numa das raras promessas em seu discurso. Outros dois acenos, sem qualquer detalhamento, foram feitos em relação ao fornecimento de energia elétrica para a região e à conclusão da Ferrovia de integração Oeste-Leste (Fiol).
“Eu sei que aqui vocês reclamam da energia elétrica, que falta muito”, reconheceu o presidente. “Sei que querem a ferrovia e que ela vai chegar”, prometeu.
Afago
O ministro da Agricultura Carlos Fávaro apontou as práticas sustentáveis dos produtores rurais no Oeste como uma regra. “Aqui o agricultor é um aliado da sustentabilidade. Eu tenho como exemplo os produtores de algodão, que são certificados em boas práticas. E quem produz algodão, produz também soja e milho”, disse. Segundo o ministro, o governo federal está atento às necessidades da região, como o aumento na disponibilização de recursos para crédito, além da construção e melhorias de acessos.
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) destacou que está desde sábado circulando pela região Oeste, ouvindo demandas da região e “preparando” a ida de Lula. “Este momento é importante para mostrar a todos que o agro não é apenas a produção de grãos e frutos, mas o agro alimenta a produção de máquinas e tecnologia”, destacou. Para o governador a presença de diversos ministros em Luís Eduardo Magalhães indica a importância do setor para o governo.
Odacil Ranzi destacou a importância da Bahia Farm Show para o desenvolvimento do agro em toda a região do Matopiba, composta pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O produtor rural também enfatizou o respeito que o homem do campo tem em relação meio ambiente. “O que nós falamos e fazemos aqui é o mesmo hoje neste dia festivo e em nosso dia a dia, que produzimos com respeito ao meio ambiente”, afirmou. Ranzi lembrou da relevância econômica da agricultura, ao garantir o sustento de 15 milhões de famílias no Brasil.
Entre os pleitos, o presidente da Aiba lembrou especialmente da necessidade de conclusão da Fiol, para facilitar o escoamento da produção, e dos investimentos na ampliação da oferta de energia elétrica.
O prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Junior Marabá, falou sobre a importância do agronegócio para o município. “Os produtores rurais que saíram de lugares distantes, para apostar aqui na região, fizeram da nossa cidade a 6ª economia da Bahia”, destacou. O prefeito fez coro à necessidade de investimentos para que a atividade traga ainda mais frutos positivos para a Bahia. “Temos produção em larga escala, mas sofremos para escoar e para beneficiar a produção. Quando isso deixar de ser um problema, Luís Eduardo vai se destacar ainda mais”, avisou.