Cerca de 200 antenas já podem ser encontradas na capital, no entanto mais precisam ser instaladas
Mais veloz e potente, a conexão 5G – que chegou em Salvador em meados do mês de agosto – ainda possui outra vantagem: o tamanho menor de sua estrutura. O porte pequeno das antenas permite que as operadoras de telefonia as instalem sem precisar de licenciamento ou alvará da prefeitura, e cerca de 200 delas já podem ser encontradas na capital baiana. No entanto, para que haja uma cobertura real, mais antenas – inclusive em suas versões de maior porte -, precisam ser instaladas, mas a legislação ultrapassada da cidade é um empecilho.
“O decreto de nº 10480/ 2020 permite que as estruturas de pequeno porte, essas que estão sendo colocadas na cidade, sejam instaladas sem licenciamento da prefeitura ou alvará. Por essas antenas serem menores, mais ou menos do tamanho dos coolers que as pessoas levam para praia, é permitido por lei a instalação delas em prédios e até bancas de revista, desde que tenha a autorização do dono e que seja comunicado à prefeitura dentro de 60 dias. Elas são potentes e já dão uma cobertura enorme, mas isso não anula a necessidade da instalação das antenas maiores, que vão oferecer uma cobertura ainda maior. A legislação, no entanto, ainda tem pontos pensados da época do 2G e restringe muito a instalação”, explica o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para as Telecomunicações (Abrintel), Luciano Stutz.
Exigências
Desde o início se sabia que a instalação da tecnologia 5G dependeria quase diretamente da atuação municipal, já que essa conexão exige, no mínimo, cinco vezes mais Estações Rádio Base (sistema de telefonia celular para a Estação Fixa) ou estações rádio-base (torres que transmitem o sinal da operadora para o celular).
O problema é que as legislações urbanas precisam ser modernizadas para melhor atender a essa demanda, permitindo a instalação das antenas.
Quem mais sofre são os bairros periféricos e seu crescimento desordenado, já que a urbanização deles se deu nos últimos anos e pouquíssimas antenas atendem essas áreas.
E foi tentando agilizar a modernização dessas leis – atrasadas em mais de 400 cidades pelo Brasil -, que a Abrintel, e diversas outras entidades e grupos, se uniram para criar o movimento Antene-se (www.antenese.org.br), que tem como objetivo dialogar e estimular o processo de atualização das leis nas cidades brasileiras, tornando o 5G uma realidade. Aqui em Salvador, o vereador Sidninho (Podemos) criou um projeto de lei que está tramitando na Comissão de Constituição e Justiça para acelerar esses processos, mas que não ganhou nenhum caráter prioritário por parte da prefeitura. “Todos estão querendo o 5G, mas essas burocracias precisam ser resolvidas antes, essa é a realidade”, afirma Stutz.
A reportagem de A TARDE tentou entrar em contato com o vereador Sidninho para entender melhor o projeto de lei, mas até o fechamento desta edição não obteve retorno.
Vantagens
Um dos maiores atrativos do 5G é o fim que a conexão dará àquela demora – às vezes de segundos, às vezes de minutos – no envio de mensagens no WhatsApp, por exemplo. Ou mesmo aqueles longos delays em reportageNS na TV, quando o âncora do jornal está conversando com alguém de outra cidade, estado ou país. A nova tecnologia também permitirá que mais pessoas consigam manter uma boa conexão em lugares muito cheios, como jogos de futebol ou festivais, onde é comum a conexão ficar lenta ou sumir. Apesar desses benefícios, a verdade é que, no momento, essa conexão não é para a maior parte da população, afirma o professor do UniRuy Wyden e gestor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), Elisandro Lima.
“A realidade é que a conexão que temos hoje com a 4G atende bem às nossas necessidades. O grande problema dela é estar numa plataforma antiga, com áreas que chamamos de ‘sombras’, onde há ausência de sinal, e as altas demandas que as antenas não aguentam já que, por exemplo, uma transmissão que deveria atender 10 mil usuários, na realidade atende 20 mil. O 5G, por outro lado, tem um sistema de frequência muito mais avançado e um poder de comunicação muito maior, mas até que ele chegue a todos e que nós realmente sintamos a necessidade de fazer uso dela, vai levar algum tempo”, explica o professor.
Até o momento, as operadoras não estão pensando em cobrar valores adicionais – ou mudar os planos de seus clientes – em razão do 5G, mas é um fato que o 5G não é uma tecnologia barata. Aliado a isso, os aparelhos celulares que captam sinal 5G não são apenas poucos, mas também são caros. E levando em consideração que acabamos de sair de um período onde a população, de forma geral, investiu em aparelhos melhores (ainda que muitos não se adequem ao 5G) por causa do isolamento e do home office, fica evidente algumas das razões por trás dos passinhos de bebê que a chegada do 5G têm tomado.
Estratégia
“É natural que as operadoras se concentrem primeiro nos bairros maiores e/ou mais ricos da cidade. A população em geral não tem poder aquisitivo para mudar de imediato seus aparelhos para que possa usar essa tecnologia, que precisa ser bem absorvida pelas cidades maiores para que, acredito eu, se justifique levar para os setores que mais precisam dessa tecnologia: comércio e indústria. Daqui a uns três anos? Talvez. É difícil projetar quando isso vai acontecer, porque ainda existem muitas metas para alcançar nas grandes cidades, mas tem se tornado evidente que é preciso popularizar, por assim dizer, essa tecnologia nas cidades, para justificar a necessidade dessa tecnologia em outras áreas que hoje sentem uma necessidade real de fazer uso dela”, explica o professor.