Toda vez que a desenhista arquitetônica Maria Deusdete Almeida Júnia, 62 anos, tentava fazer um cadastro encontrava problemas, porque os sistemas insistiam em alterar o Júnia para Júnior. Como ela herdou o mesmo nome da mãe, o complemento era necessário. Nesta segunda-feira (1º), enquanto participava do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela observou sorridente o nome ser registrado, sem falhas, e disse que o problema foi superado.
Maria está aposentada atualmente e contou que fez até campanha no condomínio onde mora, no Politeama, para mobilizar os vizinhos para participarem do Censo do IBGE. A pesquisa é realizada a cada dez anos, mas a última edição foi apenas em 2010. A pandemia, em 2020, e a falta de recursos, em 2021, atrasaram os trabalhos. A aposentada recebeu a agente censitária com um sorriso que nem a máscara conseguiu esconder.
O orçamento total da pesquisa foi de R$ 2,3 bilhões, em 2022. O superintendente do IBGE na Bahia, André Urpia, contou que a tecnologia foi usada no censo de 2010, mas que ela foi aprimorada e expandida na edição atual. Um exemplo é a possibilidade de poder responder ao questionário pela internet. Esse recurso foi pouco explorado há 12 anos. E a novidade ficou por conta da geotecnologia.
A segunda novidade é que a partir de agora as informações coletadas em Salvador serão separadas por bairro. Na prática, significa dizer que o IBGE terá um compilado de dados sobre cada um dos 170 bairros soteropolitanos e que será possível identificar as regiões que carecem mais dos serviços básicos. A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, contou que essa medida vai facilitar o trabalho da prefeitura.
“São informações importantes para elaboração de políticas públicas e para o planejamento da cidade, em todas as áreas, como desenvolvimento urbano, educação, saúde, enfim, todas as políticas públicas precisam de dados confiáveis, que só o censo pode nos dá. Segregamos alguns dados do censo de 2010 para ter informações por bairro, mas agora, com esse levantamento específico, o trabalho fica mais completo”, disse.
O censo demográfico de 2022 será usado, por exemplo, na revisão Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU), em 2024. Os agentes que foram para campo, nesta segunda (1º), vão percorrer todo o estado até outubro. Depois, os dados serão compilados e os primeiros resultados serão divulgados em 30 de dezembro.
Confira as novidades sobre o censo 2022:
- Pela primeira vez, o censo vai pesquisar informações sobre a população com autismo e quilombola;
- Outra novidade é que será feito um recorte específico de cada um dos 170 bairros de Salvador;
- Dessa vez, será possível georreferenciar os locais por onde cada um dos agentes censitários passou e o tempo que permaneceu em cada domicílio;
- A pesquisa tem dois questionários, sendo que 90% da população vai responder o mais simples (26 questões) e 10% o mais completo (77 questões), e a escolha será por sorteio;
- Todos os agentes estão identificados com colete, boné e crachá com foto. Eles carregam no peito um código QR Code, o telefone e o site do IBGE;
- É possível responder as perguntas através da internet e por telefone, basta solicitar ao agente quando ele visitar o domicílio. O prazo é de sete dias após a liberação;
- O Censo é a única pesquisa estatística oficial que traz informações sobre os seguintes temas: religião, indígenas, deficiência, fecundidade, nupcialidade, migração/ deslocamento para trabalho ou estudo, aglomerados subnormais (favelas e assemelhados) e as características do entorno dos domicílios em áreas urbanas;
- Todas as informações fornecidas ao IBGE são sigilosas por lei e não podem ser identificadas nem para a Justiça, nem para polícia. Essa legislação é de 1968 e mais restrita inclusive do que a Lei Geral de Proteção de Dados;