Com o crescimento recente de casos de covid-19 em Salvador, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dos Barris teve aumento na demanda de pacientes, gerando um tempo de espera de até cinco horas para uma consulta. A pressão na UPA se deve ao fato do local ser o mais procurado por quem apresenta sintomas gripais, já que nos períodos mais agudos da pandemia, esse posto de saúde foi um dos gripários de referência.
Nesta quinta-feira (17), em entrevista durante evento da prefeitura, o prefeito Bruno Reis afirmou que a administração municipal está acompanhando a evolução dos casos de covid-19 na capital para agir rápido, caso haja uma demanda maior por atendimentos.
“Temos contratos firmados para retomar a abertura, se necessário, dos gripários e tendas”, afirmou o prefeito, que também acrescentou que o momento é de “cuidado e cautela”. “Nós precisamos acelerar a vacinação. Muitas pessoas estavam achando que estávamos definitivamente livres da covid e não concluíram o ciclo”, acrescentou. “A gente recomenda a utilização das máscaras para idosos, pessoas com comorbidades, para gestantes e para pessoas com sintomas gripais”, finalizou.
O titular da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS), Décio Martins, confirma a longa espera nos Barris e explica que isso se deve ao fato do gripário de lá ter sido desativado quando os casos reduziram há alguns meses. Antes, a UPA estava concentrando pacientes de covid. Agora, todos os problemas de saúde de quem busca atendimento, sejam gripais ou não, são registrados nesse mesmo espaço.
“É natural que pacientes de sintomas gripais, classificados como casos azuis e verdes, sejam atendidos depois de pessoas com infarto ou que tiveram AVC [Acidente Vascular Cerebral, o popular derrame], classificados como amarelos e vermelhos, que são mais graves”, explica.
O secretário também recomenda que as pessoas com sintomas gripais leves não procurem as UPAs e sim uma das 40 Unidades Básicas de Saúde (UBS) que, inclusive, disponibilizam o teste para covid-19. Dessa forma, evita-se a longa espera como a registrada nos Barris.
Aumento dos casos ativos
A soteropolitana Raquel Andrade, 61 anos, testou positivo para covid-19 nesta quinta-feira (17). No entanto, desde o início da semana, já tinha suspeitas. “Segunda espirrei e senti a garganta arranhar. Na terça, uma amiga que vi no domingo avisou que tinha pegado. Monitorei, me isolei e, quando foi hoje, fiz o teste e estou de covid”, conta ela, que apresentou sintomas leves.
O caso dela não é isolado. De acordo com a SMS, com pouco mais de duas semanas passadas, o mês de novembro já registra um aumento de 20% na incidência de casos em relação a outubro. No início do mês, eram 1.078 casos ativos na cidade. Agora, o número já saltou para 1.127 até o dia 16 de novembro.
O Hospital Espanhol, que concentra os leitos disponibilizados para covid-19 na capital baiana, chegou à ocupação de 75% dos 40 disponíveis. Caso necessário, a quantidade de leitos pode ser ampliada para 80. Apesar disso, Decio Martins pontua que ainda não existe um número alto de internações.
“No momento, não há uma demanda grande de internação. Possivelmente, está circulando a subvariante da ômicron. […] A esmagadora maioria dos casos tem se mostrado leve. Porém, estamos em observação diária desses casos e da procura das nossas unidades de saúde”, destaca Martins, que não descarta a abertura de gripários caso os números sigam aumentando.
Controle epidemiológico
Ainda de acordo com o secretário, mesmo com o crescimento de registros, o momento é de controle epidemiológico. Para a SMS, situações de descontrole têm o fator R – métrica que classifica a capacidade de propagação de qualquer doença – da covid-19 acima de 1.0. Na cidade, atualmente, ele está em 0.84.
A médica infectologista Clarissa Cerqueira já recomenda o uso de máscara, mesmo que ainda não seja obrigatório.”É provável que, ainda que leves, os casos continuem subindo. É de bom tom que as pessoas usem máscaras, principalmente em lugares aglomerados ou fechados. Você usa pelo seu bom senso e proteção”, recomenda.
Diante do cenário, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) divulgou nota recomendando o reforço das medidas protetivas estabelecidas pelo Conselho Universitário. Entre elas, estão o uso de máscaras em ambientes fechados e outros cuidados como a higienização das mãos.
Tudo para evitar mais casos como o da analista de monitoramento Mariana Souza, 35, que está infectada com o vírus. Na última terça-feira (15), ela notou sintomas gripais e, no dia seguinte, viu a situação piorar, o que aumentou as suspeitas.
“No feriado, os sintomas gripais apareceram, mas achei que era o tempo mudando. Na quarta, piorou e fiz o teste. Deu positivo e agora vou cumprir sete dias de quarentena. Porém, tudo bem leve. O meu caso e de outras pessoas que conheço estão assim”, conta ela.
Ainda que os casos se desenvolvam de forma leve no geral, a SMS reforça a necessidade de vacinação. De acordo com a pasta, neste momento, há 575 mil pessoas elegíveis para tomar a terceira dose na capital baiana. Um público que, portanto, está atrasado e mais suscetível à infecção pela doença.
Na Bahia
Depois do período do Réveillon e do São João em 2022, esse é o terceiro momento onde se observa um aumento relevante de casos de covid-19 em Salvador. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) para saber como a pasta monitora a situação da capital e do estado de forma geral.
Em resposta, a Sesab explicou que a Bahia, na última semana, apresentou aumento discreto, mas persistente de casos, com aumento da proporção de positividade nos exames realizados pelo Lacen. Além disso, informou um aumento na demanda por leitos de forma geral.
“Também há um discreto aumento de demanda por leitos hospitalares. Nesta quinta-feira, dia 17, às 11h24, a taxa de ocupação de leitos UTI adulto está em 46% e 45% em UTI pediátrica. Permanecemos em alerta para adotar e indicar medidas oportunas”, escreve por nota.