A Universidade Federal da Bahia (Ufba) se manifestou sobre as denúncias de atos racistas contra o candidato à diretoria da Faculdade de Medicina, Antônio Lopes.
A instituição divulgou nesta quarta-feira (24), em seu site oficial, uma nota de repúdio. “Não existe meio racismo, nem racismo menor. Toda manifestação de cunho racista é um ato extremo, covarde e criminoso, devendo, por isso, ser denunciado e coibido por cidadãos e instituições. A Reitoria da Universidade Federal da Bahia, ao tomar conhecimento de que um de seus docentes – o professor Antônio Alberto Lopes, homem negro e atualmente postulante ao cargo de diretor da Faculdade de Medicina da Bahia – vem sofrendo ataques de cunho racista em sua campanha, reafirma à sociedade que esta casa não tolera qualquer tipo de agressão a membros de sua comunidade”, inicia o documento.
A Ufba garantiu, ainda, que “já encaminhou as denúncias recebidas aos setores competentes, para que se proceda a apuração prevista em regimento, de modo a identificar e penalizar os responsáveis de acordo com a legislação pertinente”.
Por fim, a universidade lembrou que é “pioneira na adoção de ações afirmativas e de enfrentamento a todo tipo de desigualdade”, e que “mantém permanente combate ao racismo, problema estrutural e, lamentavelmente, de abrangência mundial”.
Entenda o caso
Pela primeira vez, em 215 anos de história da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (FMB/UFBA), um professor negro concorre ao cargo de diretor. Na quinta-feira (25), os alunos, docentes e servidores irão escolher os próximos diretor e vice-diretor, que estarão à frente da unidade até junho de 2027. A Chapa 1 é encabeçada por Antônio Alberto Lopes e, a segunda, pela docente Sumaia Boaventura. O que era para ser uma disputa saudável, entretanto, ganhou contornos agressivos e denúncias de racismo foram feitas à ouvidoria da universidade.
Antônio Alberto Lopes ingressou como professor da Faculdade de Medicina em 1980 e é membro da Academia de Medicina da Bahia. Atualmente, é professor titular do departamento de Medicina Interna e Apoio Diagnóstico da UFBA. Ele concorre ao cargo de diretor na Chapa 1 em conjunto com Eduardo Reis, docente da universidade desde 1998. Do outro lado da disputa, na Chapa 2, Sumaia Boaventura, professora desde 1980, concorre ao cargo de diretora e André Gusmão, docente desde 2012, a vice-diretor.
No decorrer da campanha eleitoral, que teve início em 28 de abril, o professor Antônio Lopes foi alvo de ataques racistas, o que gerou denúncias à ouvidoria da universidade. A reportagem teve acesso a prints de grupos de mensagens em que alunos da graduação colocam em dúvida a sanidade mental do professor e do candidato a vice, Eduardo Reis.
Ao menos dois e-mails foram remetidos às turmas de Medicina por uma pessoa que se intitula como “Voz do Deserto”. Em uma das mensagens, há uma ilustração de cunho racista, que critica a presença de pessoas negras na Faculdade de Medicina. O autor das mensagens também se refere ao professor Antônio Lopes como Dr. Caramujo, personagem do Sítio do Pica-pau Amarelo.
Ao tomar conhecimento do conteúdo das mensagens, o professor Eduardo Reis realizou uma denúncia junto à ouvidoria. “Identificamos que havia racismo no material e enviamos à instância superior da universidade para que medidas possam ser tomadas”, disse. A Faculdade de Medicina e a Universidade Federal da Bahia foram procuradas, mas não se manifestaram sobre o ocorrido.